terça-feira, 14 de agosto de 2007

Ancestralidade, tradição e modernidade. Ou como aprendi a cortar cebolas com minha avó.

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Um fluxo de texto:


Ancestralidade, tradição e modernidade.
Ou como aprendi a cortar cebolas com minha avó.


Fiz este vatapá para a minha avó. trouxe ela para a cozinha várias vezes,
relembrando seus ensinamentos culinários. A contadora de causos VÓ, que era neta de Mathilde, uma soteropolitana filha de uma holandesa, casada aos 12 anos de idade, que se escondeu debaixo da cama na noite de núpcias, que gostava de muita pimenta e era uma mulher severa de olhos verdes profundos e dilaceradores, isso segundo sua neta Esther, que também tinha olhos verdes, profundos, uma sonhadora, uma romântica que adorava dançar.

a neta Thaís fez um vatapá de despedidas. mas não deu tempo da vó comer, ela se foi um mês depois... para algum lugar que a neta Thaís ainda não conheceu.

Uma base que não é mais base, é história, é memória. Ou talvez justamente por isso seja uma base. a minha base. de onde tudo começou.

Minha vó que como sua avó gostava de pimenta bem forte me deixa os ensinamentos, as lembranças e as saudades.
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Escritura de um vatapá


Alguns meses depois escrevo sobre a experiencia do Vatapá, no projeto Culinária Teatral.


Algumas imagens:

Maria Thaís colocando um pedaço de pão na boca de cada um. Como uma hóstia
dentro de um inicio de ritual.

E o começo é a base.

As pernas. O pão para amassar. MOER.

Ingredientes:

*discutir teatro enquanto se moe o camarão e o amendoim. biomecânicas de ummoedor de carnes. torções.

*jogar o coco longe. ver onde caiu. correr até ele. tirar o branco de dentro.

*ralar coco enquanto se canta.
um grupo/conjunto- trocas e olhares.

*danças brasileiras. "é preciso ralar, minha gente!"

*momentos réptil - felino - primata - águia

*cerveja- vodka-
pinga não pode!
lá não pode.

*Base - suspensão- pés no chão- saltos- cantos - torções - neutro.

À receita:

*Deixar o pão endurecer durante a semana de treino. usar a base: pernas.

*moer o camarão seco, o amendoim, e a castanha de caju (pode comer umas quando ficar com vontade). Força nos braços. torção, rotação, arremesso.
perceber onde cai.
as castanhas sempre caem!

*fazer o leite de coco: [QUEBRE O COCO RALE O COCO]. chacoalhe o quadril. Bata com os pés no chão, mandingueiro e salte bem alto. volte para a terra firme novamente.

*colocar o coco ralado em um panelão e deixar o caldo soltar. pegar as raspas desse coco e colocar num tecido branco e limpo. uma máscara tão branca quanto o coco. torcer o que sair de essencial, só o líquido necessário. LEITE, sem excessos.

*molhar o pães endurecidos, amadurecidos no leite de coco.

*moer o pão molhado.

*Não esquecer o peixe fresco para fazer o pirão. a sustância. Deixar
cozinhando... sempre retomar a colher e mexer quando puder. mudanças são necessárias. Não abandone o peixe.

*canjica cozida, moída e bem bolada de tira gosto.

*banho de ervas para começar a cozinhar. Boas viandas aos orixás Arruda,
Manjericão, Melissa, etc...

AH! os restos das raspas do coco, viram cocada.

As misturas:

Misturar o pão moído no resto do leite de coco. Juntar o camarão seco, as
castanhas e o amendoim (mexer). Juntar o peixe que está quase dissolvido.

falta mais alguma coisa, não?

cortar o tomate, cebola, pimentão e a pimenta de cheiro como minha avó Esther cortaria.

Experimentar e ver se tem gosto.

juntar o azeite de dendê por último e mexer na panela sem parar até dar
ponto. quem conduz define qual é o ponto.


Deixar para comer no dia seguinte. é mais gostoso. é mais curtido

Comer. degustar.
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Thaís de Almeida Prado
para sua Vó de grandes olhos verdes e muitas histórias
Esther Pacheco de Almeida Prado

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