quinta-feira, 22 de maio de 2008

Algum quadro exposto

Algum Quadro Exposto

Ele a abriu.
A desdobrou, a virou do outro lado...

Dentro dela,
.......................nada
Só o Vazio.

Suas vísceras expostas
Suas vísceras expostas
Suas vísceras expostas
.............Dentro,
...........................Nada

Algo vermelho escorria
Ele não entendia o que era.
Suas mãos também vermelhas
Ele, escorria um líquido salgado.

Ele não sabia o que era no meio daquele Nada dela.

Sozinho,
em pânico
Paralisado.

Ele respirava dor.

Dor não física

Dor quântica.

Pingava vermelho no salão.
Todos sorriam amareladamente.
Ela exposta, observava as próprias vísceras.
O prazer da Descoberta.
Descobrir O de dentro.
Era ela apenas. Ela que estava alí.

Ele tentava sofrer o mesmo procedimento dela
em frente àqueles sorrisos amarelos,
mas algo não funcionava.
Suas vísceras não estavam expostas.
Sua bílis pingava.
Ele,
...........perdido
Respirava.
Respirava bílis

mas seu líquido não era vermelho.
Perdia a coloração a cada pingo.
A cada gota
.....................transparecia

O prazer do nada dela se esgotava
O prazer do nada dela esperava continuar nada
Ela se expremia para escorrer.
As pessoas a sua volta sorriam amareladamente.

Deglutida Ela.

Ele devorava-se sem saber qual era seu começo e onde findava seu fim.
Findar seu fim...
Redundante, ele olhava
...................................perplexo.
.............................................paralisado.

O nada dela o contaminava,
mas seu líquido nunca VERMELHO

Os olhos pululavam.
................................Os dele
........................................Os dela.
As pessoas sorriam e davam as mãos.

E o líquido amarelo?
Por onde sai?
..............Fica
Não sai. Fica.

Ei, Homem! O que tem na minha boca desvairada?

Aparentemente

....................................................Os dentes dela estavam brancos.
Suas mãos iam perdendo a coloração pele e se tornavam uma cor só
Uma cor que se perdia dos olhos.
Suas mãos mudaram do ponto de partida.
hora podiam ser seus pés, hora seus olhos, hora sua língua.

...............Lambia
Ela lambia com as mãos
.........................................Ele
........................À espreita.

Mordia-se
mordia-se para poder engolir suas vísceras
que não apareciam.
.

Thaís de Almeida Prado.
Estrada de São Paulo à Londrina, dia 1 de maio de 2008

terça-feira, 20 de maio de 2008

para uma Adormecida que Mordeu a Maçã Verde e Não colocou o Dedo na Roca

Uma Mulher dorme em uma enorme mala. Uma mala para harpas...
seria um caixão?
Uma mulher escreve em um caderno antigo e veste uma camisola do século XIX.
Escreve o que?
Ela percebe os outros à sua volta.

À sua volta, ninguém.
Malas. Apenas. ............ 92 malas com numerações específicas.
A sua; a de número 40.

A mulher resolve que deve sair da mala e procurar.
O que procura?
A quem procura?
Ela procura estar lá. Apenas estar, e contemplar o que há para Estar.

Ao andar, vê as faixas de segurança amarelas e as segue.
Contempla...
Contemplam...

Espero por alguém que não está – diz a moça com um brilho no olhar...
lágrimas escorrem.
Ela lambe o gelo. E bebe para matar a sua sede que não cessa jamais.


A mulher volta ao seu leito e se deleita com palavras/imagens escritas na hora.
Elas são sua vida. São a sua forma de procurar e de esperar.


Thaís de Almeida Prado para a Adormecida da mala nº 40

sábado, 17 de maio de 2008

Mas Não ou Perguntas Idiotas Merecem uma morte Rápida

Toc toc toc..
alguém bateu...
Ela bateu.

Ela anda perdida.
Não vê razão para se encontrar.
Ela espera por um caminho
mas não faz idéia de como chegar.
Sem andar,
ela pode paralisar.

Começa a contar para não se perder...
tem 15 são 10! falta um
ela se perde...

tenta se organizar...
tudo milimetricamente colocado.
Tudo em seu lugar.
Mas tudo parece fora do lugar
meu lugar...
seu lugar
eu lugar
para um lugar.

Ela busca nas palavras soltas de uma velha senhora, uma compreensão de onde está.

palavras soltas não tão soltas,
palavras soltas bem presas,
porque a senhora as prende com presteza.

Ela tentava rimar...
linhas iguais...
uma métrica.

mas ela se perdia...
e se perdia cada vez mais.
- Ela não sabe rimar.

Ela diz que sabe de tudo,
Mas não

No desespero de se encontrar
ela descobre onde procurar.
existe uma luz.
uma luz em um casulo.
um casulo que a devora

as pessoas são sádicas
e ela também

ela espera sua vez para poder funcionar.

ela segue as linhas
toc toc toc
precisa contar até três
toc toc toc
passos por perto

uma música a amedronta.
a música é a pílula.
a pílula são perguntas.
perguntas de respostas fáceis
fáceis por demais.

ela depende dos outros
respostas de outros

por não saber mais como chegar
ela pede
ela reclama
ela....
piiiiiiiiiii

deu pane

PRIMEIRA PANE

ela está desidratada.

escuta-se sons.
crianças, velhas, jovens...
todos falam.
todos andam.
se mexem
todos todos todos
todos os dias ela se repete
repete tudo de novo

todos os dias ela se esquece...
e esquece mais um pouco.

está só...

tem um corpo.
o corpo não sabe o que faz.
ela não sabe o que Corpo faz.
ela faz o que corpo faz.

gertrude
gertrudes
uma rainha e um príncipe bobo
príncipe louco...
perdeu a razão do tempo
tempo com razão?

qual é a razão do tempo?

tempo 1
estou parada e respiro em dois tempos

tempo 2
conto quanto tempo o tempo tem
fora do tempo

tempo 3
observo eu e eu e eu e eu novamente falo.

tempo 4
acho que sei onde estou

tempo 5
onde estou mesmo?

tempo 6
eles estão por toda parte.
eles estão lá, estão aqui...
o corpo filho doutro NADA MEU

tempo 7
abortar
operação abortada

tempo 8
o general gosta
a luz
meu corpo contém clara de ovo

tempo 9
escrever escrever escrever e não precisar saber o porquê

tempo 10
tudo disso
nada disso
onde estou?
onde vou?
vou de novo
vôo de novo para quedar-me com calma.

FIM DA PRIMEIRA PANE

recomeço
Nesses caminhos os começos começam
começo começado
começar agora
nesses caminhos as trocas são extemporâneas.

se recomecei, onde foi que comecei?
onde foi que parei?
parei com calma, mas não...
mas não estava com calma porque de onde estava não se tinha calma
estava onde o tempo faz a curva (isso foi uma inserção da minha cabeça, não deveria parar por aqui.)
curva
onde foi que parei?
sim, tropecei
repeti o começo do recomeçado. do irrecomeçado
ele estava assado em alguma parte daqui.
Comi.

acho que foram as pílulas.
a música
as perguntas
as respostas fáceis

pronto
1 2 3
preciso contar
são 5 e tem 6 falta 1
porque sempre falta um?
falta um até quando passo da conta.
sempre falta 1 até com 10, quando são 7 e 20 quando são 5
falta 1
novamente um.
como o jogo onde sempre falta 1.
resta 1
quantos faltam agora?

falta aquele que não me conta onde está a parte que me falta
a parte ou as partes
à parte
eu sempre digo
à parte:
- um solilóquio ambulante
você já viu as pessoas que andam por aí?
elas andam me falando coisas
andam me fazendo parar.

estática
estava eu alí
olhando para eu e para eu e não entendia nada do que dizia
você já viu uma mulher que fala o que não fala sem entender

sim...
oh sim
sim sim
e sim mais uma vez para deixar bem claro o que eu deveria dizer.
sim.
acho que é isso,
entende?

eu deveria dizer que sim a todo custo para não dizer não.
muito simples.
não não pode

já vi que não posso mais parar.
não posso...
o corpo dura muito tempo ainda...
existe muita clara no meu ovo.
ela é toda transparente, mas ainda não cheira podre.
podre não pode.
ainda cristalina.

quando você mexe a sua clara de ovo...
os movimentos ficam mais fáceis...

pois bem... estava eu aqui fazendo meus movimentos
e então apareceu alguém que colocou uma música irritante...
irritante...

onde foi mesmo que eu queria chegar?
queria chegar em algum lugar para parar.
não paro para parar.

assim fico com falta de ar.
como uma flauta que não toca...
sim, flauta se toca com ar.

com sopro, entende?
você poderia me soprar?
poderia me inflar e voar talvez...

talvez...
mas não agora...
mas não
not now

Thaís de Almeida Prado para ...Mas Não
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