sábado, 16 de novembro de 2019

___Um Homem: Síndrome :: Cobertura ANTRO POSITIVO ::

ANTRO POSITIVO
Satyrianas 2019 - #Satyros30Anos
:: Cobertura ANTRO POSITIVO ::
___Um Homem: Síndrome
Texto, direção e elenco: Nathalia Lorda, Rubens Rewald e Thaís Almeida Prado
Dramamix
SP Escola de Teatro
Poucos projetos em dramaturgia se colocaram tão abertos ao experimentalismo como Um Homem, de Rubens Rewald e Thaís Almeida Prado. A partir de uma dramaturgia em quatro atos curtos, ano a ano, os artistas aproveitaram o Dramamix para erguer e colocar em cena cada parte. Convidando o público ao convívio com o work in progress dessa escrita, o tempo passou e agora o trabalho aponta ao mais próximo de sua conclusão. Ao menos no que se refere ao enredo dramático. Uma mulher muda-se para São Paulo e, enquanto convive com a festa dada pelo homem com quem divide um apartamento reflete sobre como foi chegar ali, ao término depara-se com o corpo de um morto em sua cama. Os atos buscam conduzir o espetáculo por meio do percurso reverso nessa trajetória, levando o espectador e aguardar o próximo momento para decifrar melhor o todo, nessa espécie de perspectiva cinematográfica que pouco se explica se proposital ou casual. São cenas de memória ou recortes de edição. Tanto faz. O efeito tem a mesma eficiência de produzir curiosidade à narrativa e ao desfecho, sobretudo sobre a personagem central.
Na edição desse ano, incluiu-se ao projeto Nathalia Lorda. Não mais apresentado como cena em processo, o texto foi pela primeira vez lido integralmente por ela e Thaís sem que fosse acrescida qualquer outra personagem. Desviando do risco de tornar a voz solo em um espelho sobre si mesma, as atrizes conduziram as falas e pensamentos a uma desconstrução plena. Por manterem seus próprios estímulos ao lido, a personagem renasceu dúbia sobretudo em sua lucidez. Em qual das vozes manifesta sua existência passou a ser um jogo muito mais complexo ao espectador. O que se deve, e muito, a fuga de permitir a afirmação da fala na forma de um jogral banal. Não foram poucos os momentos em que uma era a vírgula da outra e que pausas se travestiam como esperas.
Nesse novo experimentar o texto, dessa vez duplicado sobre sua própria voz, Rubens encontra um caminho mais próprio ao teatro do que ao cinema, e o que é tão evidente na escrita e nos momentos, agora passa a articular uma teatralidade mais pautada na presença. A narrativa deixa de ser o centro fundamental à existência da personagem para ter na presença o argumento necessário ao deslocamento da ação até o surgimento de uma narrativa. Tanto quanto se discute na contemporaneidade a urgência de deslocarmos o Sujeito a novos modelos de pertencimento histórico, Um Homem: Síndrome parece querer revelar ao Sujeito o seu não pertencimento a história, salvo quando esta existir a partir de suas dinâmicas mais desestruturantes ao ser.
Em um processo que leva já alguns anos de trabalho, pesquisa, envolvimento e tentativa, enfim o teatro assume a possibilidade de ser novamente estruturante. Se o cinema tem influenciado e muito a maneira de contar histórias, com seus recursos múltiplos e técnicos, quem sabe o teatro não venha a influenciar o cinema na dimensão do risco processual que lhe é tão próprio? Rubens segue tentando e afirmando, ainda que indiretamente, ser possível sim.
por Ruy Filho
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